Tenho acompanhado em silêncio toda a actividade em torno do Jardim França Borges (Príncipe Real). Todas as coisas que têm dito: algumas acertadas, a maioria sem razão.
Entristecia-me o estado a que deixaram chegar o jardim, no coração do Príncipe Real, sítio onde nasci há 51 anos, o que reforça a minha ligação com este espaço.
A recuperação de miradouros, jardins e praças foi e é um dos meus objectivos. Entristecia-me vê-los escuros, maltratados, indignos da sua dimensão e da sua importância para esta Cidade.
Tal como já aconteceu nos miradouros de São Pedro de Alcântara e do Torel, nos jardins Botto Machado, Francesinhas ou Cesário Verde, entre outros, e como está a acontecer noutros locais de Lisboa, a reabilitação do Jardim França Borges era, há muito, exigida. E era devida.
Desde os anos 90 que se prometia. Desde os anos 90 que se falava que “para o ano é que é”. Desde os anos 90 que os moradores do Príncipe Real e os lisboetas em geral esperavam e desesperavam, e enquanto isso o jardim ia-se lentamente degradando.
Isso acabou. Prometi devolver a dignidade àquele espaço e é isso que a CML está a fazer.
Não estamos a destruir, estamos a requalificar, a devolver a identidade ao jardim.
Não estamos a abater árvores, estamos a substituí-las; maioritariamente Choupos doentes, mal formados, com fragilidades mecânicas e que apresentavam risco para as pessoas e bens. A mais antiga tinha 28 anos e o funcionário que a plantou ainda trabalha na Câmara; na altura para substituir Ulmeiros.
Vamos substituí-las, de novo, agora por Lódãos, bem mais consentâneos com um jardim romântico como este.
Não há nenhuma árvore histórica envolvida, felizmente, porque até essas adoecem.
Em Maio, em parecer, a
DRCLVT afirmou que “a intervenção proposta ao nível da vegetação baseia-se num levantamento exaustivo que suporta decisões coerentes a nível arbóreo, arbustivo e herbáceo, salvaguardando a segurança de transeuntes e bens, a imagem romântica do jardim público e a gestão integrada em termos de manutenção”; propondo desde logo “a aprovação da intervenção a nível da vegetação”.
O mobiliário é o que lá existe. Os pavimentos serão em saibro compactado, em vez de alcatrão.
E, mais uma vez, tudo isto tem parecer favorável do IGESPAR.
Sobre a participação pública e a necessidade de informar à população, digo apenas o seguinte:
- A CML distribuiu no jardim, uns fins-de-semana antes da obra começar, um folheto com informação sobre o projecto;
- A CML, também antes das obras se iniciarem, através de uma empresa especializada, entregou nas caixas do correio de várias ruas nas imediações do jardim, 6000 exemplares de
uma carta do presidente António Costa dirigida aos munícipes. Nessa carta está explicito que as operações prevêem a “recuperação do coberto vegetal e a substituição de árvores de alinhamento”;
- A CML colocou, várias semanas antes do início da obra, um cartaz com o projecto e o resumo da intervenção;
- A CML informou a Junta de Freguesia das Mercês, que tem o projecto há vários meses para possível consulta nas suas instalações;
- Eu, enquanto vereador, reuni, já depois do início das obras, com representantes da Associação Sétima Colina, que compreenderam o âmbito da intervenção; esclareci pessoalmente várias pessoas que me contactaram e abordaram sobre o assunto.
Falta de informação? Não me parece. Talvez excesso de contra-informação.
Mas admito que houve um aspecto em que falhámos. Falhámos no dia do abate. Podíamos e devíamos ter feito mais e melhor na informação prestada e na forma como a acção foi feita. Também eu sofro ao ver o abate de uma árvore e compreendo a exaltação. Julgo que foi aí que falhámos.
Mas nada justifica as mentiras e os jogos políticos que, infelizmente, manipulam a opinião de cidadãos, maioritariamente bem intencionados, distorcendo a realidade dos factos e empolando as reacções.
Do ponto de vista paisagista este é um excelente projecto, feito por uma arquitecta paisagista da CML, e não sou apenas eu que o digo. Vários especialistas, entre os quais o Prof. Gonçalo Ribeiro Telles, a Prof. Aurora Carapinha, o Prof. Fernando Catarino e a Prof. Luisa Schmidt defendem o projecto.
Consideram a proposta de requalificação do Jardim França Borges “uma intervenção criteriosa, adequada (…) exemplar e que devia ser considerada como referente de uma boa prática de intervenção em património paisagístico”.
A garantia que dou a todos é que o Jardim do Príncipe Real voltará a ter a dignidade que merece. Será um espaço mais iluminado, mais seguro, mais fresco e bonito, como deviam ser todas as praças e jardins em Lisboa.
Certo é que daqui a quatro meses o Príncipe Real estará restaurado. As novas árvores estarão plantadas e todos os que alimentaram a polémica verão que não havia razões para alarmes. Não quer dizer que vai agradar a todos, nem que as polémicas vão acabar, até porque, o mandato, ainda agora começou.
Neste, como noutros casos, continuarei a fazer aquilo em que acredito, aquilo que considero ser o melhor para Lisboa, mas atento, por entre a poeira, aos bons conselhos que me dão.
Seria mais fácil não fazer. Seria mais fácil nunca ter denunciado ou nunca ter feito. Mas podem ter a certeza que, com a força com que sempre denunciei, continuarei a fazer por Lisboa. É isso que faz um homem de Lisboa.