Por Duarte d´Araújo Mata,
Arquitecto paisagista
O que têm em comum as tomadas de posição de um Presidente de Junta contra uma obra de requalificação urbana, com um partido, que se diz ecologista, subscrever um comunicado contra as ciclovias em curso na cidade (as mesmas que foram avaliadas e aprovadas pelo QREN e vencedoras do Orçamento Participativo), ou um cronista político e deputado europeu dedicar o seu tempo a criticar um pequeno campo agrícola no Corredor de Monsanto, ou ainda um grupo de Vereadores abandonar apressadamente uma reunião de Câmara por causa de uma proposta de uma acção de sensibilização para a microgeração?
Ora vejamos:
Em Carnide, uma obra estruturante prevê ligar em poucos dias três freguesias de Lisboa, na zona plana da Cidade, através de um percurso ciclável que, no entretanto, requalifica alguns quilómetros de espaço público, tornando-o num corredor preferencial de mobilidade. Em Carnide, o autarca que lidera a coligação PCP-PSD, atira-se ferozmente à obra e ao seu responsável, não que não concorde com a mesma como o próprio refere, mas sim devido à forma como "está a ser feita". Entenda-se, estar a ser feita é mesmo o problema. E não se conheceu infelizmente atitude enérgica semelhante quando, nesta mesma freguesia, se instalou o maior shopping center da Península Ibérica à época, ou o 2ºmaior estádio de futebol peninsular, nem um retalho imbricado de vias muito rápidas, sem espaços pedonais, ou a urbanização mais densa da Europa ou a maior feira do País - um mês inteiro todos os anos em pleno jardim patrimonial da freguesia. Nunca se viu tamanha revolta como agora da sua parte. E hoje Carnide está irreconhecível. Perdeu grande parte da sua identidade e precisa de obras de requalificação como esta que está em curso, muitas mais.
De outro calibre, o referido grupo de vereadores, que abandona a reunião de Câmara, ofendido e revoltado, e na confusão leva também essa mesma proposta de microgeração, nos mesmos moldes, para implementação num Concelho vizinho da sua cor política - uma acção que só perturbou muita gente, muitos analistas políticos quando proposta por Sá Fernandes, numa altura em que tinha actualidade e interesse.
Mais rebuscado, o artigo de Miguel Portas, deputado europeu e habitual cronista, que resolve encher o seu espaço, criticando claro está, mas baseado num artigo de jornal que, cheio de incorrecções e trapalhadas, mais não fez do agitar as águas para que outros pudessem vir contestar. Neste caso o mote foi um espaço agrícola. Ficou-se a saber que Miguel Portas não sabe onde fica, nem sabe que está englobado no corredor verde que ele próprio defendeu (e ainda defenderá, presume-se) e que, anteriormente, se previam para ali edifícios de vários pisos em toda a área sendo que, entre outras coisas, é uma área de captação das águas das chuvas, protegendo assim o Vale de Alcântara, conforme ele próprio vaticinava no mesmo artigo que seria, isso sim, uma prioridade. Se tivesse ido também fazer a sementeira, aliás como o Presidente de Junta de Campolide, sempre se poderia ter inteirado da questão geográfica. Da agronómica já é bem mais complicado, levará tempo. Estes projectos também servem para isso.
Mas episódios destes aconteceram nestes últimos 2 e 4 anos e todos, apesar de vindo dos mais variados quadrantes, mostram a mesma coisa: Descontrolo, nervosismo mas sobretudo uma obsessão pela táctica política. É isto mesmo, táctica política, a mesma que faz com que muitos dos actores políticos insistam em usar Lisboa como campo para as suas estratégias nacionais e muito pouco por Lisboa. É uma Lisboa que, assim fica sem sentido, uma Lisboa que não devia ser negócio para estratégias eleitorais que ultrapassem o sentido da própria cidade.
Se no período em que Sá Fernandes esteve na oposição camarária, as críticas rondavam sempre as hipotéticas responsabilidades na providência cautelar ao Túnel do Marquês (que muito bem alertava para falhas graves no projecto, entre várias coisas e que o juíz considerou embargando a obra e obrigando a que a que lá está não seja a mesma que foi embrargada). Agora o alvo são as muitas obras que por todo o lado estão em curso. Há uns meses as baterias estavam a ser preparadas para acusar o executivo de falta de obra mas, custe o que custar a quem prefere mais carros, mais estradas, mais casas, a verdade é esta: José Sá Fernandes Cumpriu! Prometeu fazer falta e fez. E fez falta, fazendo, e em condições muito difíceis no contexto político da Câmara e Assembleia Municipal, bem como em algumas Juntas de Freguesia, como já aqui se mencionou, mas sobretudo grandes dificuldades do ponto de vista financeiro e organizacional em que a autarquia se encontrava em 2007 e cujas causas são conhecidas. E neste contexto, era pouco provável que fazer falta pudesse evoluir para... fazer coisas. Mas as obras aparecem, obras estruturantes, obras de ruptura com uma prática asfixiante, obras que a cidade ansiava e necessitava e que, em alguns programas eleitorais até costumam constar em várias páginas, mas infelizmente sempre com pouca convicção. Essas mesmas obras que alguns mais revoltados, outros mais incrédulos, olham agora a acontecer.
1 comentário:
Fazer obra é importante. A cidade necessita de ser requalificada, arranjada e bem mantida. As recentes obras nos miradouros, o Largo Trindade Coelho e as novas esplanadas de Lisboa, são bons exemplos.
Mas a conclusão da obra à superfície da Estação do Metro de Alvalade, faz temer os apreciadores das àrvores de Lisboa: o vereador José Sá Fernades aprovou a remoção de duas dezenas de laranjeiras ali existentes para a pavimentação integral dos separadores da av. da Igreja nos acessos à Praça de Alvalade. Quem aplaude esta obra?
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