sexta-feira, 3 de abril de 2009

Carta aberta a Sócrates, Ferreira Leite e Portas

O Sr. Domingos Névoa foi, em Fevereiro passado, condenado por uma acção de corrupção que visava a minha pessoa, em que se propôs pagar-me 200.000 € para que eu alterasse a minha posição quanto ao negócio da permuta do Parque Mayer por terrenos da Feira Popular e silenciasse qualquer obstáculo aos seus interesses nessa operação.
O mesmo empresário – que já está igualmente pronunciado por outra acção de corrupção, desta feita em Coimbra – acaba de ser eleito, em Assembleia Geral, presidente de uma empresa intermunicipal de tratamento de resíduos sólidos, em que participam os municípios de Braga, Póvoa do Lanhoso, Amares, Vila Verde, Terras de Bouro e Vieira do Minho.
Não conheço os contornos jurídicos que levaram a essa eleição, mas sei que isso ocorreu sem que os autarcas responsáveis por esse voto tivessem publicamente suscitado qualquer questão quanto à escolha daquela pessoa.
Tal comportamento é um insulto a todos os eleitos locais que não são permeáveis a qualquer forma de corrupção ou de tráfico de influências. E é um insulto às populações que os elegeram, confiadas que os seus eleitos locais seriam intransigentes no combate a essas práticas, que corroem a nossa economia e a nossa democracia.
Extraordinário é ainda que as direcções políticas do PS, do PSD e do CDS – a cujas formações pertencem as maiorias que gerem aquelas autarquias – nada tenham dito acerca daquela escolha. De resto, à excepção da posição enérgica e justa do BE, bem como da reacção de João Cravinho, imperou um silêncio ensurdecedor.
Os processos judiciais que envolvem o Sr. Névoa ainda não chegaram ao seu termo e a política deve deixar que a justiça cumpra o seu papel.
Mas isso não pode nem deve impedir que, em face dos dados já conhecidos, os responsáveis políticos do país tomem posição política acerca desta escolha.
Recordo que o Tribunal deu como provado que o Sr. Névoa, bem sabendo que me visava enquanto Vereador da C.M.L., actuou no sentido de condicionar o exercício das minhas funções, propondo-se realizar a meu favor atribuições financeiras e patrimoniais para esse fim. E ainda que o Sr. Névoa sabia que, com a sua conduta, estava a colocar em causa a confiança que os eleitores em mim haviam depositado, bem como a soberania e a autonomia das decisões que eu viesse a tomar na qualidade de eleito municipal.
A corrupção é uma chaga que corrompe a alma do país. Somos um país vicioso, como as organizações internacionais há muito apontam. Todos os partidos políticos portugueses elegem o combate a esse flagelo como uma prioridade. É altura de passar das palavras para os actos. Se não o fizermos, ninguém acreditará nas palavras.
É por isso que eu reclamo de José Sócrates, Manuela Ferreira Leite e Paulo Portas – a cujos partidos pertencem as maiorias que governam aquelas autarquias – que tenham, ao menos, uma firme posição de repúdio por esta eleição.
Sob pena de, politicamente, também serem cúmplices dela.

José Sá Fernandes

Publicada ontem no Diário de Notícias

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro Zé
Agora que sei que o Domingos Névoa renunciou à presidência da empresa pública que tão escandalosamente lhe tinha sido oferecida os meus redobrados parabéns e a minha gratidão pelas tua honestidade e coragem. É possível voltar a pensar que há gente isenta na política e que os gestos corajosos sempre valem a pena e que este país pode ter remédio. E esta nova esperança traz uma alegria que já não experimentava há muito.

Um abraço
Cristina S.

Anónimo disse...

O PS é o partido dos negócios, tal como o PSD quando está no poder central ou nas câmaras. formam o bloco central dos interesses e não há volta a dar-lhes. Lisboa não foge à regra.

Alves disse...

PS=PSD=Corrupção, diz o último anónimo.

É tão ridiculo como eu dizer BE=PCP ou que o autarca do PCP em Almada é igual ao de Sintra.

Não ver que o trabalho que tem sido feito em Lisboa pelo PS + Sá Fernandes /BE é diferente do que o que é feito pelo PS em Braga, ou do que foi feito em Sintra, é demonstrativo de total incapacidade para conseguir analisar a realidade. É uma cegueira política daquelas que só aparece nos casos mais graves de sectarismo e partidarite. Uma doença que felizmente ataca pouca gente e ataca cada vez menos.

Anónimo disse...

Sá Fernandes/BE??!! É preciso um descaramento...

Anónimo disse...

Descaramento porquê? O que quer dizer? Que o Bloco não fez nada na CML ou foi o Sá Fernandes que nada fez?

Pelo menos até ao rompimento do Bloco com o Sá Fernandes pode-se dizer que o trabalho feito foi dos dois ou já é demasiado descaramento para si?

Bia disse...

Assim é que é falar, com verdade.

Obrigada pelo esclarecimento.