quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Pedalar, para fugir do preconceito

Por Duarte d´Araújo Mata, arquitecto paisagista


Ruben de Carvalho escreveu um artigo no "Expresso", no dia 17 de Outubro, dedicado inteiramente a desvalorizar, diria melhor, a denegrir o papel da bicicleta no sistema de mobilidade na cidade de Lisboa.
Uma semana depois do acto eleitoral e dos seus resultados em Lisboa, eis que o primeiro artigo de Ruben de Carvalho, sublinha-se aqui o primeiro, é dedicado, imagine-se, à bicicleta!

Agarrado aos preconceitos de sempre em torno das colinas, tece Ruben de Carvalho considerações várias sobre um meio de transporte que, para ele, nada significa (mas "é positivo", atenção) e que considera mesmo "...um erro absoluto pensar ou sequer insinuar que a bicicleta constitui mais do que um paliativo para o problema da mobilidade em Lisboa." Refere ainda que "o transporte por bicicleta nunca foi especialmente utilizado na nossa capital, ao contrário do que sucedeu noutros pontos do país". Diz ainda que a bicicleta "...se desenvolvera mais noutros países da Europa, onde as condições anteriores sempre foram mais favoráveis ao uso urbano da bicicleta".

Eis que, em meia dúzia de linhas, dois erros grosseiros são cometidos:

- O primeiro é assumir que a bicicleta não terá qualquer papel na melhoria da mobilidade.
Puro engano.
Em várias cidades do mundo desenvolvido, a bicicleta é um complemento activo do sistema de transportes, da mesma maneira que o é andar a pé. Anda-se a pé até à estação de metropolitano, se esta estiver até 1Km. E se estiver a 2 ou 3 Km? A bicicleta resolve esse hiato, evitando esperar por um autocarro ou levar o carro até lá.
E nas curtas distâncias? A bicicleta aí é competitiva e é mesmo o mais competitivo de todos os transportes, segundo dados de variadas fontes, designadamente publicações da Comissão Europeia, estimando-se que 30% da população na Área Metropolitana de Lisboa faça, por norma, curtas deslocações.
Assume Ruben de Carvalho que as bicicletas já não são o que foram (são agora mais leves, mais modernas, mais ágeis) e que a cidade cresceu para áreas planálticas.
Pois foi e é exactamente nessas áreas planálticas que a bicicleta sempre foi usada (vejam-se fotos de Benfica nos anos 40!). É nas áreas planálticas, entenda-se, simplificadamente, "do Saldanha para cima", que está concentrada uma parte substancial da população, bem como de inúmeros equipamentos colectivos geradores de tráfego.
E depois, entre planaltos, há vales onde se circula normalmente de bicicleta, alguns deles até ainda potenciais corredores verdes da cidade.
Em muitos casos, ao longo dos cabeços isso também acontece. Do Campo Mártires da Pátria ao Saldanha é praticamente plano. De Campo de Ourique a Campolide, idem.
Há muitas situações em que, de um planalto a outro, de uma linha de cumeada a outra, um viaduto (sim, um viaduto para peões e bicicletas, ou só se podem fazer pontes para carros?) torna imediato o até então impossível. A ponte sobre a Av. Gulbenkian, a futura ponte pedonal e ciclável ligando as Olaias a Chelas e aos Olivais, sempre à mesma cota ou a futura ponte sobre a 2ª circular tornando S. Domingos de Benfica e Telheiras a menos de 10 minutos a pé, são alguns exemplos.

- O segundo erro é o de que na Europa as condições sempre foram mais fáceis. Comparará Ruben de Carvalho o Inverno de Lisboa ao frio e à neve de Estocolmo, Copenhaga ou Berlim?
Comparará decerto as áreas planálticas de Lisboa às encostas a pique de várias cidades suíças, para não dizer alemãs, norueguesas ou suecas, com taxas notáveis de utilização da bicicleta?
Ou será a nortada estival de Lisboa ao verão escaldante de Sevilha?

O problema de Ruben de Carvalho foi o problema de Marcelo Rebelo de Sousa ou de Santana Lopes: preconceito e falta de informação, e ainda mais o primeiro que o segundo, o que é mais grave. O preconceito de que a bicicleta só serve ao pé do rio ao fim de semana, em calções; que a bicicleta só em ciclovias ou em trilhos em Monsanto e nunca "na Cidade". O preconceito de que Lisboa é toda aos altos e baixos. O preconceito de que nada se pode fazer intervencionado o espaço viário, retirando faixas de rodagem ou aumentando passeios. O preconceito de que "lá fora" é que sim, mas cá nunca.

Com o objectivo de defender os transportes públicos, que são realmente o centro para a solução da mobilidade, e todos o sabemos, usa-se mais uma vez o preconceito da bicicleta como arma de arremesso político (e não técnico) onde, fazendo confusões, generalizações apressadas e nalguns casos, claro, até insinuações.

Enfim, nada de novo a não ser caber no primeiro artigo pós-eleições!
Esperava-se mais, talvez.

Dá vontade de dizer: Lá fora sim, isto não pegava.



Fotografia retirada aqui.

32 comentários:

Rui Sousa disse...

Olá.

Realmente não ser percebe como alguém do PCP vem criticar e menorizar o uso da bicicleta.

É o partido que juntamente com os Verdes tem apresentado várias propostas onde é defendido o contrário.

Enfim, não passa de jogos políticos...

Quanto às ciclovias em Lisboa, agora é preciso que quem as pedia as use. Ainda não existe uma verdadeira rede, faltam percursos radias em direcção ao centro da cidade. Mas com o tempo vai!

Em relação às ciclovias já existentes, especialmente a que conheço melhor, Telheiras-Benfica, existem alguns ponto perigosos que necessitam de pequenas correcções.

Caso estejam interessas poderei ir ao terreno dar as sugestões de melhoria (é mais fácil do que explicar por escrito).

Rui Sousa

Anónimo disse...

Caro Duarte Mata
Parabéns pela excelente resposta ao artigo de Ruben de Carvalho, que subscrevo inteiramente. As mudanças e inovações originam sempre resistências e fazem emergir as vozes do desconhecimento!

pedro santos disse...

correcto, em lisboa o que falta é dar o mínimo de condições para mudar as mentalidades. a ciclovia de belém tinha centenas de pessoas o fim de semana passado e no caminho que faço diariamente, da baixa à expo, também encontro todos os dias outros ciclistas. já os eixos av almirante reis, av mouzinho de albuquerque e av da liberdade permitem circular em toda a cidade com relativa facilidade. só falta mesmo que as pessoas sintam o mínimo de segurança rodoviária e que se publicite com mais vigor esta alternativa.

B Aranda disse...

Totalmente de acordo com Rui Sousa.

Quer sobre a postura do PCP, quer sobre a ciclovia de Telheiras-Benfica (para mim, Benfica- Telheiras :P)

Anónimo disse...

Utilizador diário do comboio e da bicicleta, deixe que lhe diga que, apesar de perceber algum do desconforto que o artigo do Ruben de Carvalho causou, não concordando com o título, concordo com o opinião que forma a base do texto.
Queira-se ou não, a bicicleta é realmente um paliativo para o problema da mobilidade em Lisboa.
Apostar numa rede de transportes públicos mais eficientes, gerir o estacionamento de forma civilizada e evitar que entrem tantos carros na cidade é o único caminho.
As ciclovias foram realmente feitas à pressa e a pressa nunca é boa conselheira. Fazer uma ciclovia junto ao rio e depois acusar os outros de só verem as bicicletas junto ao rio, não faz muito sentido.
Ainda para mais uma ciclovia que passa pelo meio das esplanadas!
A ciclovia de Benfica é absurda porque bastava gerir o estacionamento e baixar a velocidade máxima permitida para os 30km/h para permitir a partilha da rua entre todos.
Avenida da Republica, Liberdade, Gago Coutinho, Parque das Nações-Santa Apolónia são vias onde justificaria separação entre veículos. Eixos rápidos e onde não se pode baixar mais a velocidade.
Lisboa tem de ser entregue aos peões, aos passeios, aos seus habitantes, depois eles escolherão o meio de transporte que mais lhes convém, mas hoje, no actual estado das coisas, há muito mais a fazer que desenhar bicicletas na beira da estrada.
Em Londres, Paris, Barcelona, São Francisco e muitas outras cidades as bicicletas chegaram depois de se terem resolvido as questões do trânsito automóvel.
O resto são aspirinas!

Anónimo disse...

PARABENS, POR AQUI NÃO TIVEMOS SORTE, MAS VAMOS CONTINUAR A LUTAR, POR UM CONCELHO MELHOR.
SAUDAÇÕES

Nuno disse...

Este senhor é de um partido com uma certa afinidade com o partido "Os Verdes".
Será que o partido com que foram a eleições coligados e os votantes que lhe endereçaram o voto partilham desta opinião.
Não será este um caso de fraude política, mais um dos que são cometidos diáriamente por este tipo de políticos com cultura de almanaque borda d água....

Nuno Alves disse...

Excelente argumentação. O preconceito, mais que a falta de informação, é algo que se tem que vencer. O desenvovliemtnos de ciclovias e pitas cicláveis não sendo uma condidção suficente para resolver o problema da mobilidade, é sem dúvida, uma condição necessário para tal, desde que encarada numa perspectiva sistémica.

Duarte d´Araújo Mata disse...

Caro SICBYBIKEDAY, deixe-me dizer-lhe que artigos como o de Ruben de Carvalho infelizmente não resolvem nada a favor da bicicleta, porque tentam ridicularizá-la para ganhar politicamente. Santana Lopes passou a campanha nisso também. Mas perdeu. Não concordo quando diz que "em Londres, Paris, Barcelona, São Francisco e muitas outras cidades as bicicletas chegaram depois de se terem resolvido as questões do trânsito automóvel". Não é verdade. Ainda hoje não estão resolvidos. Nos exemplos europeus que refere, nomeadamente, a bicicleta aparece após implementação de infra-estruturas. Pode haver correcções a fazer num ou noutro ponto mas em Lisboa não podemos também ficar à espera de resolver primeiro um problema por completo para depois virem as bicicletas. Seria bom? É utópico. E como o Óptimo é inimigo do Bom, optámos por ter algumas pistas em eixos principais que liguem muitos equipamentos e áreas residenciais e apostar na coexistência no restante. Foi à pressa? Não, foi com determinação - era urgente e fez-se. Houve pessoas que, de diversas formas e por diversos motivos tentou que não se apostasse nas bicicletas. E não foi só pistas que fizemos. Há regulamentos aprovados a defender a bicicleta, há estacionamentos a serem instalados, haverá bicicletas de uso partilhado. Cumprimentos

Duarte d´Araújo Mata disse...

Caro Rui Sousa, Obrigado pelo seu comentário. O ideal é corrigir-se o que houver a corrigir, começando por fazer chegar à CML um pequeno apontamento seu nos locais em causa (use o google, fotos, etc) Vai ser preciso fazer-se uma forte campanha de incentivo junto de empresas, escolas, operadores de transportes, supermercados, estádios, etc, para que a bicicleta entre na nossa vida de forma cómoda, simples e confortável. Não basta a pista, claro - só por si, serve para quebrar alguns tabus de uma imensa maioria que não arrisca, e não arriscará (é um facto...) se não tiver espaço próprio. Fez-se e entre Benfica e Telheiras é uma solução muito boa e que requalificou para melhor aqueles espaços. Cumprimentos

Nuno Alves disse...

Penso que este artigo deveria também sair no Expresso para ter a mesma visibilidade do artigo do Dr. Ruben Cravalho.

Anónimo disse...

Mas porque chamam a trajectos marcados no chão "ciclovias"?
A verdade é que não fizeram nada disso que dizem. Nem são eixos e nem são a solução.
Claro que os problemas do trânsito nas cidades que referi não foram TODOS resolvidos, mas se conhece esses exemplos, não me diga que fizeram primeiro as (verdadeiras) ciclovias e depois lidaram com o estacionamento, porque isso não é verdade. Se conhece a Velib parisiense, sabe que muito foi feito antes para preparar o introdução da da bicicleta partilhada.
Em Londres a bicicleta surge em força após a "congestion charge" e como resposta à maior facilidade de circular a pedal e como alternativa ao estrangulamento do transporte público em hora de ponta.
Acha que uma ciclovia que passa pelo meio de esplanadas serve? Feita de calçada, paralelo, mau piso, com marcações pseudo-artísticas, mas sem verdadeira separação, nem uniformidade de sinalização?
Sabe quantas faixas há para trânsito automóvel entre a torre de
Belém e o Cais do Sodré? Pois é! e o pedaço para as bicicletas foi tirado ao peões! Faz algum sentido falarem em ciclovias? Trajectos de passeio ainda vá, mas então não é o Santana nem o Ruben que acham que a bicicleta só tem lugar em zonas de passeio...
A CML está na posse de algum estudo de mobilidade? Foi feito algum trabalho de casa antes da "operação bicicleta"? Houve debate público?
Não "são os artigos do Ruben", foi apenas um artigo. E contra os argumentos da bicicleta ser uma solução paliativa ainda não vi nada.
Apoiar a bicicleta como alternativa, é uma coisa, promover o seu uso é outra.
Pensar a mobilidade, melhorar o transporte colectivo a sério e agir contra o carro é a única solução. Até lá... aspirinas!

Anónimo disse...

No dia 17 de Outubro escrevi:
"O transporte pendular das populações espalhadas por Portugal está, como em poucos países, dependente principalmente do transporte particular, ou seja do carro. Na área metropolitana de Lisboa a situação vivida diária e infernalmente por centenas de milhar de pessoas é insustentável e a solução não passará infelizmente apenas pelo recurso à bicicleta."
Pode ler o resto em:
http://sicbybikeday.wordpress.com/2009/10/17/o-principio-do-comeco/

Duarte d´Araújo Mata disse...

SICBYBIKEDAY, não se preocupe, a quantidade de argumentos contra o trabalho que se fez nestes 2 anos, ampliando o acessório e denegrindo o essencial, bem como a forma como sai na defesa deste artigo de Ruben de Carvalho em tudo o que tem de indefensável são suficientes, para mim, para perceber o que realmente pensa do assunto.
Há uma equipa autárquica que se atirou ao problema da bicicleta, e em 2 anos, na situação financeira da CML, no contexto político que teve, mesmo contra todas as adversidades, bem explicitas em algum cepticismo latente, foi capaz de iniciar um trabalho que visa a sua franca implementação. O problema da bicicleta e do peão é gigantesco. Deu-se um passo para começar a resolvê-lo. Foi só um passo. Há muito para fazer e vamos continuar.
Refere você que "Apostar numa rede de transportes públicos mais eficientes, gerir o estacionamento de forma civilizada e evitar que entrem tantos carros na cidade é o único caminho." Estamos de acordo nisso!
Mas, a bicicleta é SÓ um paliativo na mobilidade? É disso que se trata, tentar vir diminuir o papel da bicicleta no esquema da mobilidade urbana. E você concorda?
Não, a bicicleta é mais que isso e isso começa a ser evidente. Tentar defender o contrário está cheio de motivações políticas, da política mais comum a que nos habituámos, e ainda mais no caso de Lisboa. Assumamos isso. Cumprimentos

Anónimo disse...

Em relação à defesa da bicicleta enquanto alternativa e ao que assumo, pode ler o que penso nos posts do blog que referi. Embora não o entenda como uma competição esses textos falam por mim...

O exemplo da atitude da CML em relação ao estacionamento em frente da loja de bicicletas da Baixa é também um sinal de como trata a ciclistas, ou não?

Diminuir o papel da bicicleta é relativo. Diminuir em relação a quê?
Porque não lê o artigo como um grande incentivo ao TC? Como um recentrar do problema da mobilidade em Lisboa?

Acha que o DOT em NY não tem a consciência do real valor da bicicleta na cidade? Sabe quantas pessoas cruzam o Hudson de carro ou autocarro por dia? E o Tejo?
Quanto vale a bicicleta em Lisboa? Quantas bicicletas circulam hoje em Lisboa? Qual é o objectivo? Copenhagen tem 30% de "commuters" e quer passar para os 40%. E Lisboa?

A CML tem pouco dinheiro? Imagino que sim, ma então porque foram gastar tanto junto ao rio?

A verdade é que conheço muito mais sobre os planos de mobilidade -incluindo o que à bicicleta diz respeito- em cidades estrangeiras pela simples consulta online, que pela leitura dos escritos ou comentários dos responsáveis alfacinhas!

Quando se opta, arrisca-se à crítica...
Resumir a crítica a divergências políticas, como lhe chama "política comum", como se "comum" fosse um valor depreciativo -ainda para mais numa discução com a bicicleta por tema, é desvalorizar os seus próprios argumentos.

Anónimo disse...

Ainda em relação à "política comum":
http://sicbybikeday.wordpress.com/2009/08/23/protocolos-de-gaveta/

Nuno Alves disse...

Caro SicBikeDay:

Como o devido respeito, o Sr. faz-me a lembrar a história da personagem que viveu durante toda a vida "esfomeado". E quando finalmente começa a comer 3 refeições diárias reclama que a sopa tem pouco sal...
"Roma e Pavia não se fizeram num dia" mas finalmente temos um executivo que está a executar um projecto de mobilidade sustentável com recurso, també, ao uso de bicileta e de forma muito séria.

Nuno Alves disse...

Caro Duarte Mata,
Tenho constatado que o cidadão lisboeta que não tem um interesse especial sobre estes assuntos não está a par do projecto das ciclovias para Lisboa. COm efeito para além da informação em http://www.cm-lisboa.pt/archive/doc/_Microsoft_PowerPoint_-_Apresenta.pdf , que está muito confusa e parace-me incompleta, não há mais informação sobre o v/ projecto. É uma estratégia de comunicação ou é mesmo "má comunicação"?

Duarte d´Araújo Mata disse...

Caro Nuno Alves. É porventura falha de comunicação em não estar tudo actualizado como deveria. A estratégia de mobilidade suave deverá estar fortemente ligada à revisão do PDM e à disseminação do uso da bicicleta no interior dos bairros através da implementação de zonas 30. Da rede de percursos dedicados, há alguns em obra e alguns em projecto que vinham da referida proposta, mas dever-se-á o mais breve possivel estabilizar a estratégia e disseminar informação actualizada. Cumprimentos

Anónimo disse...

Não considero que houvesse muita fome, porque a bicicleta pode circular onde circulam os carros, pelo menos nas cidades.
Não considero que tenha passado a comer três refeições porque já andava de bicicleta em Lisboa antes das "obras" da CML.
E a sopa não tem falta de sal. Está mesmo mal feita!
Se Roma e Pavia não se fizeram num dia, certo é que não consta que tenham começado por fazer as casas pelo telhado...
Quando à seriedade não a ponho em causa. Ponho em causa é a exagerada importância (benigna) que dão à bicicleta. Acho que o artigo do Ruben recentra a questão nos TC. Só isso.

Anónimo disse...

Bom post.

A bicicleta em Lisboa daria imenso jeito para ir de casa ao metro, do metro ao trabalho se... não fosse proibido transportar bicicletas nas carruagens do metro em horário laboral.

É certo que existe horário livre durante todo o dia aos fins de semana e feriados. Mas nos dias laborais, em que é permitido transportar bicicletas apenas a partir das 20:30, não chega.

Nuno Alves disse...

É verdade. A Metro deveria seguir o mesmo exemplo da CP e permitir o uso de bicicleta indiscriminadamente.

Anónimo disse...

a partir das 20.00 e não 20.30...

além disso porque nao considera ter 2 bicicletas baratuchas prendendo cada uma à saída de cada estação de metro?

Andar com a bici no metro é um desconforto grande para outros passageiros quando este vai cheio.

Duarte d´Araújo Mata disse...

A minha opinião pessoal é de que o transporte de bicicletas no metro não é, neste momento, uma prioridade, dada a distância que é preciso percorrer dentro das estações até atingir a plataforma, muitas delas não preparadas em hora de ponta para esse convivio multidão - bicicletas, pelo que o ciclista será sempre visto como um "empecilho". Pelo contrário, o acesso ao comboio e aos autocarros é bem mais simples e poderia ser, no caso do primeiro, um incentivo directo à sua utilização . O projecto BIKEBUS da Carris é um excelente projecto e são já 6 as carreiras que o permitem. De qualquer modo, o acesso às estações de metro em Lisboa tem que ser potenciado levando a bicicleta até lá e deixando-a em TOTAL SEGURANÇA. Terá que ser uma aposta dos próximos tempos, a par de parqueamentos em grandes equipamentos e serviços.

Nuno Alves disse...

Concordo em absoluto. A Metro deveria desenvolver uma sistema de parqueamento de biciletas seguro e cómodo.
Por exemplo, eu moro na Alta de Lisboa e vou diáriamente de bicileta até ao meu local de trabalho (perto do Campo Grande). Por vezes, gostava de ir até à baixa de metro (não vou de bici por ser muito complicado passar de Entrecampos para a frente) mas como não existem parques acabo por não arriscar em deixar a bicicleta sem segurança.

Anónimo disse...

Ainda a propósito do sal da sopa:
http://sicbybikeday.wordpress.com/2009/11/04/bicicleta-a-mesa/

Nuno Alves disse...

Caro sicbybike day
Muito bom artigo :-)
Abraço,

ASG disse...

Já tinha deixado o meu ponto de vista num outro local sobre a existência de "racks" para estacionamento de bicicletas junto das estações do metro.
Não creio que seja assim um investimento tão grande e de certo potenciaria a utilização da bicicleta na cidade!
Eu já o faço por vezes, deixando a bicicleta num qualquer poste ou corrimão, mas em local próprio os outros "peões" não me ficariam a olhar como usurpadora do espaço público!

Unknown disse...

Viva,

Parece-me que existe aqui um problema entre os ciclistas actuais e os (potenciais) ciclistas futuros.
Os ciclistas actuais utilizam a estrada porque não têm remédio (não querem ou não gostam de andar no passeio como eu) e sujeitam-se ao desconforto dos automobilistas que buzinam, aceleram e ultrapassam bem rente ao empecilho que lhes atrasa o caminho. Entretanto estes ciclistas teimosos (como eu) desenvolvem aptidões de condução em meio urbano, tornam-se ciclistas competentes e advogam que o lugar da bicicleta é na estrada e o que há a fazer é reduzir a quantidade de transito automóvel, diminuir a velocidade do mesmo, e apostar forte nos Transportes Colectivos de forma a se fazer a transferência modal do automóvel particular para o TC. Criam-se assim condições para o uso seguro da bicicleta na estrada porque haverá menos automóveis particulares e estes circularão a baixa velocidade.

O potenciais futuros ciclistas têm medo de andar na estrada e exigem ciclovias segregadas do trânsito para se sentirem seguros e tornar a deslocação em bicicleta uma realidade sequer. Espera-se que com um número aceitável de ciclovias a quantidade de ciclistas urbanos aumente significativamente tornando o ciclista mais visível ao automobilista. (se a ciclovia passar ao lado dos automobilistas) Espera-se também acabar com o argumento de "Andar de bicicleta em Lisboa? Com o trânsito destes? Nem pensar!" fornecendo as condições necessárias para estes ciclistas inexperientes se aventurarem na bicicleta. Por fim, espera-se que haja uma transferência modal do automóvel para a bicicleta porque se criaram condições para tal.

E com estes argumentos, os ciclistas dividem-se, e discutem, e alguns criticam as ciclovias enquanto outros aplaudem. Entretanto a energia necessária para combater o abuso do automóvel particular vai-se dispersando nestas discussões de caracter ideológico ou prático, quando deveríamos todos estar em sintonia em relação ao uso da bicicleta na cidade de Lisboa.

Felicito a Câmara Municipal de Lisboa por ter uma equipa a olhar para esta forma de deslocação e por ter construído as ciclovias existentes. Sim, têm problemas. Sim, podem ser melhoradas. Mas o que acho que poderia ser melhorado é a informação prestada ao público no site da câmara em relação a estes e outros projectos relacionados com o uso da Bicicleta. Poderiam ser marcadas visitas em campo para partilha de ideias no local das ciclovias existentes. Poderiam abrir o processo decisor dos traçados ao público, aberto a sugestões e críticas.

Se assim fosse, teriam ouvido da minha boca por exemplo que acho um absurdo haver sinais de STOP na ciclovia de Benfica junto às saídas das garagens de automóveis particulares. Quem deveria ter os sinais de STOP seriam os automóveis nas saídas de garagem tal como está no Código da Estrada.

Miguel Cabeça

Carla disse...

Anónimo de 2 de Novembro de 2009 15:15

Pensar em ter 2 bicis baratuchas...no meu caso não dá. Repara, vivo na Amadora: deixar qualquer coisa na estação de metro da Amadora, duraria 5 minutos sozinha. Por puro vandalismo. É a realidade.

Nuno,

Tens razão, um parking seguro junto das estações de metro seria óptimo.

Duarte,

Não compreendo porque dizes que o transporte das bicicletas no metro não é uma prioridade.
Repara, seria tão simples como mudar uma regra, não seria necessário qualquer investimento monetário.
E pensa que, por mimetismo, muita gente poderia começar a considerar esta hipótese e a adquirir este hábito.

Quanto a ser um empecilho, creio que não. Basta criar uma regra do tipo: bicicletas só podem entrar na 1º e última carruagem.

Não estou a contar nenhuma ideia minha, estou só a dizer que isto é o que acontece em várias cidades europeias, como Barcelona por exemplo.
É perfeitamente factível, tão simples como mudar um par de regras.

Horas de ponta existem em todas as grandes cidades, e em Lisboa temos a vantagem de muitas das estações de metro serem amplas.

Pensa nisto a sério!

Um abraço.

Duarte d´Araújo Mata disse...

ASG, tem toda a razão no que diz. A próxima prioridade na bicicleta é a colocação maciça de estacionamentos de bicicleta nos equipamentos (públicos e privados). Veja que o regulamento da edificação aprovado no anterior mandato vincula os edificios colectivos a terem estacionamento para bicicletas coberto.

Miguel Cabeça, análise lúcida e justa a sua. A existência de uma rede de percursos dedicados é, para a generalidade da população, um requisito. Se calhar será exagero precisar desta rede, mas isto é um facto e enquanto não houvesse, não se desatava este nó. Também nós sentimos que ter consciência que o Óptimo é inimigo do Bom foi uma constante no nosso trabalho no mandato passado. Se alguém dissesse em 15 de Julho de 2007 que, em 2 anos, nas condições em que a CML estava, se ia mesmo começar a inverter a lógica do pensamento e colocar a bicicleta como prática comum em termos de planeamento/investimento em Lisboa, isso, mas teve que haver determinação e capacidade de resistêcia nesta causa. Valeu a pena e é para continuar. Mas como diz cometeram-se alguns erros e nós admitimo-lo e tem que se melhorar.

Carla, é boa ideia só ter bicicletas em carruagens específicas dos comboios e metro e pode ser uma boa aposta garantir esse transporte, não digo que não. Mas por hipótese, mesmo que no metro circulassem 2 bicicletas por carruagem, teriamos 12 bicicletas por comboio - é muito pouco à escala do número de utilizadores expectáveis. Por isso, a questão central é mesmo poder deixar em segurança as bicicletas nas estações. Em segurança é mesmo em SEGURANÇA. Veja o projecto ASCOBIKE em S. Paulo - Brasil, um bom exemplo e uma referência de sucesso. Mas também lhe digo, não se pode pedir a Lisboa que tudo faça e Amadora, Loures, Odivelas, Sintra e Oeiras, etc, pouco ou nada fazem por isso. Não é justo. Cumprimentos,

Carla disse...

Duarte,

A ideia não é minha, como te disse são normas que estão estabelecidas noutras cidades e que funcionam. Neste caso em concreto, em Barcelona.
Repara, esta cidade tem um grande nº de utilizadores de bici. Reuniram várias condições, sendo a última o BiCiNg- esquema de bicicletas para uso público, que foi um sucesso.
O BiCiNg foi criado há 2 ou 3 anos, mas já antes a bicicleta era muito utilizada.

Os comboios têm na 1º e útima carruagem uma zona com menos assentos, já a pensar nas pesoas que têm de entrar carrinhos de bebé, carreiras de roda, ou bicicletas. Nesta parte da carruagem existem 4 assentos tipo alavanca com mola, que se dobram, para dar mais espaço.

Costumam entrar aí 3 bicis. Ou seja, que por comboio viajam apenas 6.
Mas como passam comboios com frequência, não há problema: não tens espaço num, entras no seguinte.
No metro a mesma coisa, esperar 2 minutos não é significativo, com o tempo que ganhas com a bici.

Depois nem toda a gente quererá colocar a bici dentro da carruagem , alguns deixarão estacionada perto da estação.

E pensa ainda nas bicis que se dobram, ocupam o mesmo espaço de uma mala.

Vi o video sobre a ASCOBIKE em S. Paulo, muito interessante.
Mas para investir numa coisa assim, é preciso ter a certeza que há adesão a grande escala.

Eu confesso que penso que a adesão em Lisboa não será assim tão grande, pelo menos no inicio.
Repara que existe muito comodismo, e para além disso o carro é muitas vezes visto como um sinal de status social. Exige uma mudança de mentalidades, creio que a maior adesão será entre o pessoal mais novo.

Creio que uma solução do tipo montar una racks dentro da estação de metro ou de comboio,numa zona vigiada por uma video-câmara já serviria para este efeito.

Como te expliquei, foquei este aspecto da entrada de bicis no metro, porque sei que é muito funcional, e não supõe investimento económico. Mudando umas normas no papel, criamos mais condições. Isto associado com ciclo vias, parques de estacionamento, rede de bicicletas públicas, é o ideal.

Se estiveres interessado, dá-me uma direcção de mail, e eu envio-te fotos do estacionamento, das carruagens com as bicis em hora de ponta.

Nunca vi ninguém incomodado pela presença das bicicletas no metro, nem mesmo quando as transportam no elevador ou nas escadas rolantes (na vertical).

Um abraço.